quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Perante a Contestação Generalizada da Classe Docente o Governo Aposta na Mentira

No passado sábado, 120.000 professores portugueses - 80% do universo docente - desfilaram em Lisboa na maior manifestação de sempre de uma única classe profissional em Portugal. Os TSD saúdam todos os participantes, independentemente das suas convicções ideológicas e político-sindicais, pelo elevado sentido cívico que demonstraram.
Os TSD defendem à outrance a avaliação dos professores. Entendem, todavia, que o modelo em vigor assenta em princípios inadequados e injustos e num esquema kafkiano que está a criar uma enorme perturbação nas escolas e a desfocar os professores da sua função essencial. Os sindicatos de professores mais não fazem do que dar voz à insatisfação generalizada da classe como lhes compete.
Perante este estado de coisas, o governo dispara em todas as direcções e não hesita sequer em recorrer à mentira. Enquanto a própria manifestação decorria, já a Ministra da Educação, estrategicamente refugiada na cidade do Porto, se desdobrava em declarações injuriosas juntando, no mesmo saco, sindicatos e oposição política, acusando-os de oportunismo político em virtude da aproximação das eleições. Esta postura foi reafirmada à hora do telejornal em mais um exercício lamentável de propaganda em prime-time, sem o habitual contraditório que seria expectável no serviço público de televisão.
A ministra acusa sindicatos e manifestantes de pretenderem chantagear, não só a sua excelsa pessoa, como os professores e as escolas que estão, no seu entender, a "implementar o processo". Os TSD perguntam: quais professores, se estiveram ali, quase todos, mesmo aqueles que nunca tinham participado numa manifestação?
Afirma a ministra, que os "professores não querem ser avaliados", procurando ocultar que o modelo de avaliação em vigor foi imposto em simulacros negociais em que as contrapropostas sindicais foram olimpicamente ignoradas. Tal afirmação não resiste sequer a um exercício simples de consulta pelos sites dos sindicatos, onde se poderá constatar que estes têm propostas concretas de modelos de avaliação alternativos.
Não temos dúvidas que a esmagadora maioria dos professores defende a avaliação do seu desempenho profissional. Apenas entendem que terá de avançar através de um efectivo processo negocial; que o novo modelo de avaliação deve ser exequível e objectivo; deve valorizar efectivamente o mérito, pondo fim às quotas administrativas criadas pelo Governo; e deve acabar, de uma vez, com a divisão da carreira docente, iníqua e geradora de injustiças, entre professores titulares e professores que acabam por ser classificados de segunda.
Por seu turno, o Primeiro-Ministro, que se considera um político imaculado e impoluto e que tem de estar acima de qualquer censura ou crítica, afina pelo mesmo diapasão da sua subordinada, insistindo na mentira caluniosa que os professores não querem ser avaliados e acusando as oposições de "oportunismo político".
Ora, o que a ministra e o primeiro-ministro demonstram, através da sua postura arrogante e prepotente, é uma lamentável falta de humildade e cultura democráticas, que seriam expectáveis em titulares de órgãos de soberania.
O Governo aposta tudo na confrontação com os professores, pensando que um braço de ferro e o reforço da imagem de inflexibilidade lhe irão devolver os votos que os professores inexoravelmente lhe negarão em 2009.
Só que, quando se põe em causa a dignidade de toda uma classe profissional, desmotiva-se fortemente o seu desempenho, destrói-se a escola pública e, em última análise, prejudicam-se os alunos e as suas famílias. Infelizmente, a cegueira não deixa o Primeiro-Ministro ver esta evidência.

Lisboa, 10 de Novembro de 2008

O Secretariado Executivo

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