Por: Pereira Gomes.
"Os principais artífices desses ganhos da banca são os seus
trabalhadores. Que não podem agora ser tratados como objetos indesejáveis e
arremessados para o lixo. É por eles e com eles que continuaremos a nossa luta,
até onde for necessário"
Segundo o insuspeito economista Augusto Mateus – ministro do
Governo de António Guterres – em entrevista concedida à TSF, qualquer que fosse
o Governo que ocupasse S. Bento nesta altura não conseguiria diferir muito nas
medidas a tomar para tentar os primeiros e dolorosos passos para sair da crise
em que Portugal mergulhou, procurando, ao mesmo tempo, lançar os alicerces para
a retoma económica.
No mesmo dia, aquele que foi um dos terroristas mais procurados
de sempre e um dos mais sanguinários da história contemporânea – o tristemente
célebre “Carlos” – acusado da autoria de dezenas de mortes e que vai agora
começar a ser julgado em Paris, incitava, em declarações ao diário espanhol “El
Mundo” que os chamados “indignados” incrementassem as suas ações altamente
provocatórias e desestabilizadoras em toda a Europa, aproveitando as
fragilidades da crise para provocar tremendas erupções sociais que arrasassem
de vez os regimes democráticos.
Embora provindas de duas vozes de oposição ao tipo de medidas
que o Governo português tem vindo a obrigar-se a tomar, torna-se absolutamente
evidente que, se de um lado o executivo talvez possa encontrar aliados pontuais
e conjunturais para a adoção de medidas incontornáveis, no sentido de guardar
os dedos e abdicando dos anéis, tem de contar, na outra face da moeda, com o
emergir de movimentações que, aproveitando-se do descontentamento de medidas
impopulares que situações destas inevitavelmente provocam, tentarão colocar em
causa os principais princípios e valores do regime democrático.
Sou, intransigentemente, pelo direito à liberdade de expressão.
Mas quando esse direito conduz à manipulação de massas com fins inconfessáveis,
receio francamente pelas consequências que daí possam advir.
Duvido que haja qualquer Governo, seja ele de que quadrante
partidário for, que, de ânimo leve, tome medidas desfavoráveis aos
trabalhadores e aos respetivos agregados familiares. Bem ao contrário, só o
fará quando a isso for chamado por imperiosos motivos e de independência
nacional.
No que diretamente diz respeito aos sindicatos do setor
financeiro, temo-nos batido denodamente, não apenas para evitar injustiças
ainda mais gravosas que penalizariam de forma brutal um número muito mais
considerável de trabalhadores, como também para preservar direitos, para que
esses trabalhadores não vejam o seu futuro posto irremediavelmente em causa.
A banca portuguesa é um dos pilares fundamentais do edifício
económico-financeiro de Portugal. Continua a ter ganhos. Menos do que antes da
eclosão da crise, é bem certo. Mas continua a ter ganhos. E os principais
artífices desses ganhos são os seus trabalhadores. Que não podem agora ser tratados
como objetos indesejáveis e arremessados para o lixo.
É por eles e com eles que continuaremos a nossa luta, até onde
for necessário, até ao limite das nossas forças, para que Portugal não se
transforme num monumento à injustiça.
Publicada na Revista Febase - Federação do Sector Financeiro da UGT, de Novembro 2011